Estrelas




O pai depositou sobre a mesa o prato de porcelana, cujo macarrão com queijo, o industrializado, de caixinha, ainda soltava fumaça. Encheu a taça com vinho tinto e sentou-se para jantar. Já era quase dez da noite, estava tarde para comer, mas só conseguiu sossego aquele momento.

Enrolou alguns fiapos de macarrão no garfo e levou até a boca, já na primeira garfada desistiu de comer, tomou um gole de vinho, secando a taça.

Olhou para os quadros da parede e viu as imagens que lhe traziam saudades; já fazia algum tempo, mas ele nunca iria se acostumar.

Espionando sobre a porta estava o pequeno Sungjae, o escuro do corretor permitia que apenas seus olhos fossem iluminados. Assim que percebeu que o pai o olhava, correu para o colo do mesmo.

— Papai? - Perguntou ainda sonolento. — Está comendo o macarrão do outro papai?

— Não filho. - Sorriu. — Eu fiz esse macarrão.

— Papai... - Tocou na face cansada do mais velho. — O outro papai foi embora para sempre?

Silenciou. Fitava o rosto de seu filho, apesar de adotado, havia características que remetiam a seu marido, como por exemplo, o formato dos lábios e as maçãs do rosto bem marcadas.

— Para sempre não! - Sorriu. — Só quando está de dia, a noite ele vem nos visitar.

— Como? - Os olhos brilharam.

O pai levantou-se da mesa com Sungjae no colo; caminhou até a janela da sala de jantar e apontou para o céu:

— Basta olhar as estrelas.

— Por que papai virou uma estrela? – Disse tocando no vidro.

— Porque a lua quer que o céu fique enfeitado com lindas estrelas, e escolhe as pessoas mais apaixonantes aqui da Terra para brilharem lá em cima.

— Eu sou bonito, papai?

— Você é lindo, meu amor - Disse beijando a pontinha do nariz.

— Então por que não sou uma estrela?

— Você já é! É a minha estrela, aquela da qual posso tocar e abraçar. - Trouxe o menino para um abraço. — Algumas estrelas somente pode ser admiradas.

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