Caixa



Abri uma caixa. Coloquei sentimentos bons e ruins dentro dela e em seguida a fechei. Não coloquei um peso sobre a tampa, então os sentimentos estavam livres, podendo escapar a qualquer momento, e novos sentimentos poderiam entrar. Por mais que eu tenha guardado tudo com muito cuidado, eu não pude vigiar minha própria caixa, então ela ficou sozinha por um tempo, no cantinho. Por que eu não tive tempo? Bom, porque eu tive que olhar outras caixinhas. Caixas machucadas, caixas que transbordavam sentimentos triste, caixas que vazavam amor, caixas que não gostavam de seu conteúdo, ou seja, caixa de vários tipos.
Eu cuidei das caixinhas, zelei por elas, e tentei ignorar minha própria caixa, porque eu não queria lidar com ela.
Mas chega um momento em que você precisa abrir e ver o que tem dentro. O que foi embora? E o que chegou? Se misturaram?
Uma espiadinha, quem sabe.
Fui até a caixa e a vi em uma situação não tão boa. Toda destruída, suja e sem tampa, sem saber onde estava. Quando me aproximei, ela me engoliu... uma espécie de vingança, creio eu.
Hoje estou aqui dentro de minha caixa. Convivendo com sentimentos que ignorei por anos, os bons e os ruins, mais do ruim, é claro, porque a caixa, ao ficar sozinha e esquecida, abrigou tudo o que aparecia, para ver se a solidão passava. A solidão passou, mas cada um que se abrigava dentro dela, fazia um estrago. "Um rasgo aqui, ninguém vai perceber", eles diziam.
Sei que essa caixa é minha, porque tem meu nome nela, mas não reconheço mais nada dentro dela.
Eu me esqueci de quem eu era.
Como saberei o que sou hoje?
E o que serei amanhã?
Quem me dera outras caixas pudessem me salvar de minha própria bagunça.

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