Fúcsia


De que cor era minha aura?

Da cor mais linda que meus olhos puderam ver.



Wayta vivia rodeada das mais diversas cores.
Ela sentia que a vida era como um arco íris. Seus passos pelas ruas eram inundados de pessoas, cores, cheiros e sentimentos. Tentava não sorrir quando se deparava com as cores claras e também segurava sua expressão de decepção ao ver tons vermelhos e amarronzados. Era -quase- impossível não esboçar reação; para começar, as pessoas já reparavam nela conforme caminhava pelas ruas, pois Wayta encarava todos que passavam ao seu lado (não era nada discreta) e quando enxergava cores azuis ela corria até a pessoa e pedia para que cuidasse de sua saúde.
Wayta podia ver auras, não havia uma aura sequer que ela não enxergava, e quando decifrava o significado da cor, juntamente com o sentimento, sentia que estava costurando sua alma a alma da pessoa. Ela se sentia ligada, se sentia especial por ter aquele dom. “Ver” as pessoas por fora era algo que todos podiam fazer, mas ver de dentro para fora… Bem… Ela não conhecia ninguém que podia fazer, a não ser si mesmo. 
Ver auras nem sempre era algo… prazeroso. Quando entrava em algum ambiente muito carregado, isto é: com pessoas de auras escuras, sentia seu estômago embrulhar e a cabeça latejar. Somente nesse momento é que se sentia terrível por ter o dom de ver auras. 
Seu pai costumava ter a aura sempre vermelha, com um leve tom de bege. Ele não era a pior pessoa do mundo, mas estava longe de ser um bom pai. Wayta tinha marcas por todo seu corpo, de cores azuis, verdes e até mesmo roxas; pequenas galáxias que se formavam após os diversos tapas e socos que levava na calada da noite. E dentre as cores mais claras estava a aura de sua mãe, Wayta costumava dizer que era a cor de um anjo; ela teve certeza disso quando viu as asas brotarem nas costas de sua mãe antes dela morrer.
A morte da mãe foi uma experiência traumática, e por isso Wayta pensou ter perdido o dom de ver as cores. Ela só enxergava as cores voltadas para o tom de azul; um amarelo, por exemplo, misturava-se com um azul e lembrava um verde. Parecia que todos estavam doentes por causa daquele azul. 
Mas tudo mudou quando ela entrou para a faculdade.
Por estar rodeada de diversas almas e energias, o dom pareceu ter “aguçado” dentro de si. Contudo, não possuía plena convicção de que o dom havia voltado ao “normal”, pois a maioria das pessoas estavam rodeadas de azuis, principalmente na sala de aula. Os alunos tinham cores mais claras e o tom dos professores era de um azul petróleo, cor que ela não conhecia.
O azul petróleo na verdade era considerado “azul esverdeado” para Wayta, mas isso antes de conhecer Yasmin, ou Yah. A guria tomou posse do posto de melhor amiga (que não era preenchido por ninguém) e passou a fazer parte da rotina universitária de Wayta. Por estarem em cursos diferentes, elas só se encontravam na hora do intervalo. Yah cursava publicidade e propaganda, enquanto Wayta optou por Administração. Os cursos tinham quase nada em comum (quase) mas os planos das garotas eram o mesmo: abrir o próprio negócio.
Wayta havia se afeiçoado a Yasmin, não apenas pelo sonho, mas também pela cor da aura de sua amiga, ela tinha a cor azul -era inevitável- mas os fios laranjas habitavam em sua aura; Wayta acreditava que a amiga tinha aquele tom para combinar com o sorriso largo e simpático da mais velha.
Apesar de serem uma fantástica e unida dupla, a mesa do refeitório sempre lotava no intervalo. Além de Brígida, namorada de Solar, havia a jornalista Suzane, Bruno que estudava física e o casal de estudantes de relações internacionais: Thomas e Helena. 
Helena. Ou melhor: Hel. A mulher de beleza extremamente exótica e atraente, cujos cabelos loiros enrolavam-se na ponta e não ousava tocar o ombro. Além de cursar a faculdade, era youtuber, fazia cover e também era dona de um vibratto maravilhoso, completamente apaixonante. Mais do que isso, Hel era a responsável por confundir a cabeça de Wayta ao aparecer com uma aura daquela cor.
Todos do grupo de amigos possuíam cores “normais”, ou seja, cores conhecidas por Wayta. Brígida era repleta de tons pastéis, principalmente o rosa, isso devido sua paixão por Yas; Suzane e Bruno eram da cor do pôr do sol, um amarelo misturado com laranja e finalizado com um tom rosa mais claro, já Thomas tinha a cor que Wayta odiava, o bege, mas ainda sim o azul invadia sua aura. O problema era com Helena. A aura da jovem era uma incógnita. Parecia rosa, sim, porque talvez fosse, mas… Qual aquele tom de rosa? Ficava entre o claro e o escuro, era a medida perfeita de rosa.
— Yas. - Wayta sussurrou para a amiga em um dos intervalos. — Você não teria nenhum livro sobre cores?
A amiga apenas acenou com a cabeça e remexeu em sua mochila a procura do livro.
— A teoria das cores. - Leu o título num sussurro. — Por que precisa disso?
— É para um trabalho. - Mentiu.
Yasmin não sabia que a melhor amiga podia ver auras, na verdade ninguém sabia, não era algo normal de contar, e Wayta não julga ser necessário informar que tinha um dom. Então não caberia explicar o porquê estava folheando um livro sobre cores na hora do intervalo.
A após leves folheadas encontrou o tom que queria. Isso após encarar Hwasa diversas vezes até ter certeza de que aquele era o tom.
 
Magenta
O magenta é uma cor-pigmento primária e cor-luz secundária, resultado da mistura das luzes azul e vermelha. Sua cor complementar é o verde. Ao contrário das demais cores, esta cor não está em uma única faixa de ondas no espectro; a luz magenta tem ondas tanto de vermelho quanto de azul na mesma quantidade.
A cor é chamada também de fúchsia ou fúcsia, devido à planta com o mesmo nome. Fúchsia é usado como nome alternativo para a cor magenta eléctrica. A cor é por vezes não muito corretamente chamada de rosa brilhante ou rosa vívido.
 É uma cor geralmente relacionada à sensualidade e ao sexo feminino.”

Wayta fechou o livro após descobrir qual a cor de Helena. Devolveu o exemplar para Solar e tentou prestar atenção na conversa que os amigos estavam tendo, mas seu olhar sempre escapava em direção a Hel. Wayta chegou a engolir seco diversas vezes e mordeu os lábios. Por que Helena estava a deixando daquele jeito?
— E você, Wayta… - Sacudiu a cabeça e arregalou os olhos.  —  Está gostando do curso?
Era Thomas quem perguntava, mas a atenção estava toda voltada a ela. 
— É… Sim… - Abriu um sorriso amarelo. — Tive certeza dele no primeiro dia de aula.
— Que bom pra você… - Hel suspirou e logo em seguida sorriu. — Eu não gosto muito do meu curso.
— Não tem como mudar? - Brígida indagou.
— Vou esperar esse semestre acabar e depois troco, não tem como mudar agora, eu quero mesmo é…
— Como assim você vai mudar de curso? - Thomas interrompeu a namorada. — Pensei que você fosse ser minha parceira e iriamos viajar o mundo…
— Sempre disse para você que não é o que eu quero…
— Helena, você não pode me deixar assim! - O rapaz começou a se exaltar e todos na mesa ficaram tensos.
— Calma cara. - Bruno interveio. — Ela só vai largar de curso, não terminar com você.
— Primeiro é o curso, logo me dá um pé na bunda.
— Que exagero. - A namorada sacudiu a cabeça em negativa.
— Eu não vou deixar você sair do curso. Eu não permito.
Novamente a tensão. Os amigos se entreolharam. Hel abaixou a cabeça e ajeitou a franja de seu cabelo. 
Foi nesse momento que Wayta percebeu que o fúcsia já não tinha tanta intensidade e que fios de cor lilás se moviam furiosamente. Quer dizer, o furioso era Thomas, que tinha a aura completamente vermelha.
O sinal soou (para o alívio de todos). Os amigos se levantaram da mesa e se entreolharam. 
— Ah, antes que eu me esqueça. - Yas pôs a falar. — Vamos no cinema hoje a noite, lá na galeria de Hongdae perto do restaurante “Ollive Chicken”. - Todos afirmaram com a cabeça. — Esperamos vocês lá.
Wayta fez uma reverência para todos e apressou o passo para sair logo dali. Ela não tinha condições de ir para a aula, pois seu interior estava completamente carregado de energias negativas. Correu para o banheiro e trancou-se nos dos fundos. As costas escorregaram pela parede fria e ela sentou-se no chão. Queria fazer aquela dor parar, já estava desesperada. A cabeça latejava e sentia forte ânsia.
O que estava acontecendo? Jamais havia se sentido assim.
— Sua estúpida.
Uma voz soou pelo banheiro. E era familiar.
— Você precisa pedir ajuda…
Ouviu a porta de outro banheiro se trancar.
— Até quando vai viver assim, Helena?
Wayta levantou-se quase que em um pulo. 
— Hel? - Reuniu toda a coragem que tinha para chamar pelo nome da garota. — É você?
— Way? - A mais disse com certo receio.
Wayta destrancou a porta do banheiro e saiu a procura de outra porta fechada, assim que a encontrou deu leves batidas com o dorso da mão e aguardou. O pino foi destrancado e a mais velha encontrou Helena no chão. A maquiagem completamente destruída por causa das lágrimas e a blusa amassada.
— O que…
Wayta abaixou-se para ficar a altura da mais nova, que não pensou duas vezes antes de agarrar o corpo da mais velha a sua frente. O soluço baixinho logo se tornou em um choro alto e libertador. Ela estava desesperada. Wayta não sentia a cabeça doer, mas ainda sim uma energia negativa vindo de Helena a deixava incomodada, apesar de que a aura era um perfeito fúcsia novamente.
— Ele fez algo a você? - Perguntou afastando-a do abraço para poder olhar em seus olhos. — Ele… Te machucou?
A mais nova abaixou a blusa até a altura do peitoral e mostrou os roxos próximos a sua clavícula. Em seguida pressionou o dorso da mão em sua bochecha, retirando toda a base usada para esconder mais roxos. A blusa foi abaixada mais uma vez, revelando ombros cheios de hematomas.
— Helena… Eu… - Se Wayta pudesse vez a própria aura ela a veria como um azul; como um oceano; repleto de tristeza. — Sinto muito.
— Eu não consigo me livrar dele… Eu não consigo dar queixa… Eu…
— Está tudo bem, hm? - Deslizou os dedos trêmulos pela face chorosa. — Um passo de cada vez, está bem?
— Wayta… Você vai me ajudar?
— Claro. - Disse com convicção. — Eu estou contigo.
— Mas nós nos conhecemos há pouquíssimos meses e…
— Não importa há quanto tempo nos conhecemos, isso não significa que eu não possa te prote… - Coçou a garganta. - Ajudar! É… Ajudar… Eu vou te ajudar.
— Obrigada. - Esboçou um sorriso. 
A cabeça ainda continuava a latejar, mas Wayta não se importava. A mais nova buscou um espaço entre os braços da mais velha para poder se encaixar e receber afago. Wayta sentia o coração ricochetear, mas concentrava em manter sua respiração. 
A cor fúcsia ainda reluzia e Wayta estava contente por isso, ela só não sabia o porquê.
Talvez sua cor favorita fosse rosa.
 
*
 
Aquela foi a primeira vez que Wayta sentiu raiva por poder enxergar auras
A noite do cinema havia sido terrível, com direito a gritos e uma terrível briga na saída do shopping. Thomas teve um surto durante a sessão do cinema, pois Helena queria prestar atenção no filme ao invés de trocar selares com o namorado. 
Isso resultou mais em um roxo, dessa vez no antebraço esquerdo.
Thomas a puxou para fora do cinema aos gritos, e os colegas acompanharam, tentando separar o casal. Wayta estava tão desesperada com as cores que apareciam à sua frente, sua cabeça latejava e ela mal conseguia respirar. O resultado de tantas energias negativas foi duas semanas doente, uma forte febre tomou posse de seu corpo e a prendeu na cama.
Quando enfim retornou para a faculdade tudo estava diferente. Era como se os amigos tivessem caído em um precipício de tristeza, nem mesmo saber que Wayta estava de volta os deixaram mais alegres. 
O motivo da tristeza era que Helena continuava com Thomas, talvez por medo do que ele poderia fazer, talvez por tê-lo perdoado ou até mesmo por gostar dele. O casal não se juntava mais aos amigos na hora do intervalo, ficavam sentados em uma mesa com pessoas aleatórias de outros cursos. 
Entretanto, Helena continuava com a cor fúcsia que mexia com o coração de Wayta. As duas trocavam olhares durante o intervalo, mas era só. Era como se a vida de Wayta tivesse perdido a cor, mesmo que estivesse rodeada daquele azul. Ela nunca gostou de azul mesmo, e já estava começando a ficar irritada.
Os dias seguiram. As semanas lentamente passaram. Três meses se foram. O semestre estava quase no fim, e se não fosse por seus amigos Wayta teria trancado a matrícula. Ela estava exausta por ter que lidar com as diversas provas e os trabalhos, e ainda ter que conviver com seu pai.
— Você pode se mudar para o dormitório feminino, eu soube que há uma vaga no quarto da Helena. - Suzane comentou enquanto enfiava um ovo cozido na boca. — A garota que dividia o quarto com ela trancou o curso e agora está disponível, você podia ver com ela.
— Mas nós nos falamos uma vez e…
— Nós já sabemos de tudo. - Yasmin interveio. — Helena já me mandou diversas mensagens perguntando de você, e seu pescoço uma hora vai quebrar de tanto que você olha para aquela mesa. Você gosta dela. Gostou desde o primeiro momento que a viu.
Aquilo era pior que um soco no estômago. Estava sendo tão óbvia assim? Na verdade não tinha tanta certeza se o que sentia era “gostar” mas… Por que se sentia tão bem quando olhava para Helena? Por que a cor dela era tão maravilhosa?
— Fale com ela. - Brígida propôs. 
— Eu vou morrer de vergonha… E o Thomas ele…
— Ele é um bosta. - Bruno participou da conversa. — Envie um bilhetinho então.
— Tudo bem. - Disse meio sem graça. — Eu vou tentar.
Todos na mesa respiraram aliviados, era como se estivesse esperando aquele ato. Será que Wayta era tão óbvia assim? E… Quer dizer que gostava da Helena? O olhar escapou para a direção da mesa em que Helena estava e encontrou-se com os olhos castanhos da mais nova. As bochechas de Wayta queimaram de vergonha e ela desviou o olhar. 
Sim. Ela gostava.
 
 
*
 
Viver com Helena não era algo prazeroso, até porque Wayta quase nunca via a colega de quarto, pois a mesma passava a maior parte do tempo na casa de Thomas. Quando se esbarravam, isso muito raramente, as duas conversavam.
Às vezes Helena ficava no dormitório para gravar um cover, e Wayta acompanhava a gravação. Ela tinha a chance de assistir a gravação e logo em seguida ver o vídeo no canal de Hel, e nunca se cansava.
— Você se importa se eu gravar o cover?
Era a pergunta que Helena fazia antes de posicionar a câmera no tripé. Wayta sacudia a cabeça em negativo, ela mal conseguia responder. O motivo? Hel se produzia para gravar a música, isto é, fazia uma maquiagem forte e usava roupas chiques. Era como se estivesse pronta para a balada. E Wayta abria a boca (de surpresa) ao ver como Helena era capaz de ficar mais bela.
Hel pegava o violão preto, ajeitava-se na cama e apertava o botão para gravar. Gravava uma, duas e no máximo três vezes a mesma música para depois escolher a melhor versão. Wayta acompanhava tudo, mas nada dizia. Somente a aplaudia no final de cada gravação e se sentia a pessoa mais pateta do mundo. 
— Acho que vou tentar mais um vez. - Dizia no final de cada gravação. — Eu desafinei na segunda estrofe.
Não havia nenhum desafinado, Helena cantava perfeitamente bem. Mas o que deixava mesmo Wayta maravilhada era a cor da aura da mais nova. O fúcsia estava lá e brilhava intensamente. Não havia nenhum azul ou outra cor, era somente o forte tom de rosa que vibrava de acordo com a entonação da voz.
Wayta se via cantarolando as músicas que Helena gravava, logo ela que não gostava quase nada de pop. A mais velha gostava de indie, mas durante o banho arriscava o refrão de “Cold Water” do Justin Bieber ou “We don’t talk anymore” do Charlie Puth com a Selena Gomez. Não que gostasse daquelas músicas, mas ela gostava de lembrar como cada verso ficava na voz de Hel.
 
 
 
— O que você quer que eu cante? 
— Como assim o que eu quero? - Wayta perguntou confusa enquanto abaixava os fones de ouvido na mesa de estudos.
— Escolha uma música. Eu vou cantar para você. - Disse acompanhada de um sorriso. — Você acompanha minhas gravações e ainda acompanha o meu canal, é um presente.
— Ah, bem… Eu não sei se você gostaria das músicas que eu ouço e…
Helena correu com os dedos até o fone de ouvido da mais velha e posicionou no ouvido. O ipod tocava Aurora, a cantora preferida de Wayta. O estilo folk melancólico acompanhava a menina em todos os momentos do dia, desde os mais alegres ao mais tristes.
— Que voz linda. - Helena comentou enquanto se sentava na cama. — Qual o nome dessa canção?
— Murder Song. - Comentou com vergonha. — Não é a minha preferida, mas…
— Escolha uma. - Soltou um riso abafado. — Farei o meu melhor.
— Certo… - Pensou. — Eu gosto muito de Little Boy in The Grass.
— Combinado. Cantarei essa. - Soltou o fone e afastou-se da colega. Wayta reparou que o pulso da mais nova estava repleto de roxos.
— Ei Hel… - A mais nova virou o rosto em direção a Wayta. — Você… Está bem?
A aura fúcsia foi envolta com um azul claro, quase branco, e Hwasa sorriu.
— Melhor impossível. 
Hel continuava a sorrir, mas Wayta podia ouvir o coração da mais nova se partir.
— Nunca esqueça que eu estou aqui. Certo? - Levantou-se da escrivaninha e foi até a outra. — Por favor, Hel, nunca esqueça disso. Eu estou aqui.
E sem pensar direito, Wayta tocou com as mãos nas bochechas da outra e a acariciou. A mais nova fechou os olhos, como quem já sabia o que estava para acontecer. Wayta observava atentamente as linhas de expressão do rosto da mais nova, a maquiagem no rosto escondia um roxo perto do olho, e era possível notar somente se estivesse próxima, ou seja, naquela distância. 
Wayta podia sentir uma energia desconhecida percorrendo seu corpo, a qual arrepiava cada parte de seu ser. Aproximou os próprios lábios dos de Helena e fez como a mais nova: fechou os olhos. Assim que os lábios roçaram uma lágrima tímida escorreu de um dos olhos de Wayta e ela respirou fundo para dar continuidade naquele beijo. A energia que a rodeava assimilava a proteção e compaixão, era uma linha a frente de paixão, que se aproximava de admiração. 
— Wayta… - Helena interrompeu o beijo para olhá-la. — Eu sinto muito por ser covarde.
— Você não é covarde… 
— Eu sinto muito.
A mais nova se afastou e saiu do quarto, deixando Wayta com a cabeça a mil. A mais velha estava perdidamente confusa, sentia mil energias a rodeando e se misturando, e a vontade que tinha era de entrar embaixo de um chuveiro gelado para dar um jeito em suas emoções.
 
 
*
 
Helena sumiu por dias. Quer dizer, havia visto na faculdade, isto é: de relance, pois a mais nova não havia voltado para o dormitório. 
Os amigos disseram que ela estava morando com Thomas e isso fez o coração de Wayta pesar. Ela sabia o que a mais nova estava passando e queria dar um jeito naquela situação. Protegê-la de tudo.
Quando voltou para o quarto naquela tarde Wayta teve uma surpresa. 
Helena estava de volta.
— Sua doida! - A mais velha correu para abraçá-la. — Por onde andou?
— Eu precisava ensaiar para você, por isso sumi.
— Fique preocupada e…
Foi interrompida pela outra. Helena puxou uma cadeira e ordenou que Wayta sentasse. A mais velha assim fez e aguardou.
— Certo. Espero que goste. Só vou gravar se você gostar.
E Hwasa começou a cantar. Ela cantava com toda a paixão do mundo, como se não tivesse outra chance para impressionar a mais velha. Ela cantava como se fosse a última vez, a única maneira de retribuir o carinho.
Mas havia algo estranho.
Onde estava a cor de Hel? Por que não conseguia enxergar nada?
Wayta mal conseguiu se concentrar na canção, estava pensando demais e criando teorias em sua cabeça imaginando o que acontecia, pois ela nunca havia deixado de ver auras.
Quando enfim percebeu… Bem… Talvez fosse tarde demais.
Era tarde demais desde o momento em que a encontrou.
Desde o momento que a deixou ir embora.
— Hel… - Interrompeu a canção. 
— Você descobriu, não é?
Wayta deslizou a destra pelo seu próprio rosto e suspirou pesadamente. Ela queria desabar no chão e chorar.
— Onde você está?
— Aqui. - Disse cabisbaixo.
— Eu falo sério… - A morena levantou-se da cadeira e andou em direção da outra. — Onde?
— No banheiro. - Wayta fez menção de ir até lá. — Mas por favor! Não… Vá… Eu não quero que você me veja assim, e… Se você me ver eu tenho que ir embora.
— O que você fez? - A mais velha não conseguia mais segurar as lágrimas. — Por que? Eu… Sinto muito, me perdoa por não poder te ajudar.
— Meu destino já estava traçado… - Sorriu. — Você acha que haveria planos felizes para mim aqui na Terra?
Wayta nada disse. Apenas envolveu os braços sobre o “corpo” de Helena e deixou as lágrimas escaparem sem censura. A mais nova afagou os longos fios de Wayta e chorou junto. 
— Foi a única maneira de descansar em paz.
A voz de Hel estava fraca e completamente baixa. Ela sorria, realmente estava feliz. Tentava apertar fortemente o corpo de Wayta, mas sabia que era impossível.
— Wayta… - Disse baixinho. — De que cor era a minha aura?
— Da cor mais linda que meus olhos puderam ver.
 

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