Cigarros



Em desespero, você me pede por um isqueiro para acender seu último cigarro.
Você sabe muito bem que eu não fumo, e com certeza imagina que jamais encontrará um cigarro dentro de minha bolsa. Você se arrepende por não ter fumado o último antes de partir nessa jornada.
Você se arrepende perfeitamente de não ter feito inúmeras coisas, o cigarro, porém, é que mais se sobressaí.
Mesmo no escuro teus olhos conseguem ver luzes e camadas de fumaças que se tornam mais presentes a medida que você caminha. É fogo. Fogo. Você grita enquanto se afasta de mim.
Em meus passos cambaleantes, chego até você. Teus joelhos agora estão mais ralados do que o normal e sangues se espalham pelo mato alto daquele lugar.
"Onde estamos?". Você me pergunta pegando o aparelho celular, que não tem sinal algum.
"Eu não sei".
Sento-me ao seu lado e observo os machucados, mas você parece nem se importar com ele.
"Acho que elouqueci", você diz, "Eu não sei o que estou fazendo".
Não queria assentir, mas minha cabeça balançou em afirmativo. Você estava louco sim, um louco que corria pelo campo aberto atrás do fogo; fogo para que pudesse acender o cigarrinho em tuas mãos úmidas.
Teus olhos continuam a olhar para aquela fumaça, que agora parece mais longe do que o normal.
E eu continuo a te encarar. Observo cada um daqueles machucados, os quais você adquiriu durante a jornada, e sorrio tímido.
"Você está indo bem". Suspiro baixinho enquanto sopro aquelas frases ao vento, que nem sei se vão chegar até a ti.
"Estamos indo bem".
Você suspira de volta enquanto se levanta, limpando todos os seus machucados e pronto para seguir.
Seguir mesmo sem saber onde quer chegar.

Comentários

Postagens mais visitadas