Açúcar

Você me pediu para fazer um café mais doce, pois o último estava um tanto quanto amargo para seu paladar sensível. Eu acatei sem reclamar ou pestanejar, afinal, você sempre passava as tardes aqui e o que eu poderia oferecer era café e alguns biscoitos amanteigados guardados no pote em cima da geladeira.

Antes de você me dizer eu nunca havia me dado conta de quão amargo meu café era, pois sempre usei a mesma medida para preparar a bebida e jamais me passou pela cabeça mudar a quantidade, por exemplo, de açúcar que eu adicionava na caneca de água antes de ferver. Para mim estava tudo tão bom e o sabor casava perfeitamente com os biscoitinhos. Mas quando você pronunciou que desejava mais açúcar naquela mistura e eu, prontamente, acatar o pedido, percebi quão melhor o sabor ficava.

Talvez nem combine tanto assim com os biscoitos ou com qualquer outro acompanhamento no café da tarde, mas há nessa quantidade de açúcar que faz o café ser melhor e perfeitamente agradável.

Eu demorei para perceber que o que havia mudado não era apenas o café, mas a nossa relação. Não é de hoje que dividíamos intimidades, porém nunca havíamos criados um laço tão forte a ponto de “insinuar” possíveis mudanças em atos cotidianos que muitas vezes passam despercebidos; como, por exemplo, o ato de preparar o café antes de você ir para o trabalho.

Não foi somente o café que ficou mais doce, foram seus beijos; foi a nossa relação. O café ficou infinitamente melhor por que após prepara-lo pela primeira vez eu recebi o sorrido mais doce que aquelas cinco colheres de açúcar recém acrescentadas na mistura.

Foi aí que notei o quanto o amor se esconde nas pequenas coisas.

Não precisa de muito para ser feliz, só basta ter teu sorriso de manhã ou receber um ainda maior, com lábios mais rasgados, quando você retorna do trabalho e sente o cheiro do café na mesa.

E sem mesmo saber por quanto tempo você vai ficar aqui, preparei sempre o melhor café; só para receber sorrisos tão doces quanto a bebida de cafeína levemente adocicada.