Poeira

 “Que grande poeira”, o mais velho exclamou enquanto soltava das mãozinhas do mais novos para apontar em direção ao céu, “tão grande e lilás, nunca vi uma colorida”.

O namorado mirou bem para o rapaz ao seu lado, mordeu os lábios para analisá-lo melhor e bufou.

“Aquilo são nuvens”, ele disse, quase incrédulo, ajustando o óculos largo que caía pela pontinha do nariz. 

“Não…”, estalou a língua, “a nuvem não é uma nuvem se não for uma poeira”, arqueou uma das sobrancelhas, “são as poeirinhas de sonhos que deixamos cair sob o travesseiro todas às noites”. 

O garoto sacudiu a cabeça em negativo, mas abriu um sorriso que indicava a compreensão da tal história.

“E quando as poeiras chovem?” perguntou em provocação para o namorado.

“Ora, é a realização dos sonhos! Assim como as poeirinhas viram nuvens, as nuvens transbordam em sonhos”.

“Ah… por que fui namorar um artista…”, revirou os olhos mais uma vez, deixando-se encostar no ombro do maior. Fechou os olhos para sentir a brisa sobre o seu rosto e foi abraçado pelo mais velho, que o tocou gentilmente nas bochechas.

“Você é minha nuvenzinha”.

“De poeira?”, zombou. 

“Sem poeira, pois já choveu, e a chuva me trouxe você”.


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